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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

BRANDO É VIRTUOSAMENTE UM CANALHA.





BRANDO é meu personagem político fictício que criei na perspectiva de fazer algo concreto visando ajudar a derrubar uma concepção enraizada no senso comum que diz que os políticos ou grandes homens são sempre, sem exceções, a culminância de um longo processo de amadurecimento intelectual, técnico, moral, ético, espiritual, psicológico e social.

Quem crê nisso crê também que os políticos são todos iguais mesmo quando agem nos limites do significado da honestidade. Também crê, paradoxalmente, que quando ultrapassam esse limite estariam todos, sem exceções, apenas plenificando aquilo o que são e estava lá no recôndito da alma.

O senso comum é assim mesmo, é radical. Ainda que seja contraditória essa inflexibilidade, pois partindo de identidades altamente divergentes entre si (as dos políticos) não se pode chegar à mesma conclusão de princípios, exatamente por causa das diferenças às vezes inconciliáveis entre eles (princípios e políticos).

Então, por desconhecimento ou canalhice, o sujeito pode simbolicamente jogar todos no mesmo saco e balançar dizendo que a mão que buscar uma alternativa às bandalheiras corriqueiras não se enganará ao puxar o mais próximo do seu alcance, pois todos são iguais.

BRANDO é meu canalha preferido, uma vez que ele representa tudo o que se pode fazer para demonstrar que o senso comum está errado. Ele é o meu tipo ideal.

Estamos vivendo na “sociedade do século XXI, a sociedade do conhecimento” (científico e filosófico) que requer de todos nós uma preparação mínima para que se consiga aquilo que ela classifica como prêmio para o esforço individual: dinheiro, status social elevado, renda vultosa e o luxo consequente a tudo isso. É simples, há poucas alternativas ao esforço primário para a preparação intelectual e técnica, ou seja, a profissionalização e especialização.

As alternativas são: ganhar na loteria um prêmio vultoso, herdar de um parente uma grande fortuna, ou se casar com um “bom e promissor partido”, ou coisa que o valha. Não sendo esses dois caminhos os pretendidos do sujeito só lhe restam entrar para a prática política com a intenção de ser contemplado com os prêmios que a sociedade reserva àqueles que se esforçam - porém sem ter as qualificações mínimas necessárias, e por isso ele rouba o dinheiro público para ter o que deseja exatamente porque é incompetente para tê-lo por seus meios – e a via pura e simples do roubo à mão armada.

BRANDO, meu canalha preferido, elegeu, até agora, a via da prática política desonesta. Até agora também ele se deu bem porque ajuda a manter viva a concepção do senso comum que diz que todo político é ladrão e, assim, desvia dele algum olhar de revolta contra a canalhice disseminada e, além disso, as autoridades fiscalizadoras do dinheiro público não agiram duramente ainda em relação aos seus incontáveis malfeitos. Enquanto isso ele continua rindo cinicamente dos roubados.

Tendo o político uma preparação intelectual, técnica, profissional, moral, ética, psicológica e entrando na política com objetivos políticos, ou seja, objetivos que dizem respeito àqueles que vivem na Polis, os politikós, (de outro modo: Polis em grego significa cidade, aquele que vive nela é o politikós e sua prática nela é a política) visando resolver os problemas que dizem respeito a todos, então esse político estará fugindo do estereótipo consagrado pelo senso comum no âmbito do paradoxal.

Por outro lado estará consagrando a concepção que diz que quem entra na política já está preparado para praticá-la a partir dos requisitos que se esperam de um homem decente. E de modo claro e contundente, portanto sem eufemismos ou vacilações, tem de se impor para deixar bem claro a todos que a mão que buscou uma alternativa às bandalheiras corriqueiras não errou.

E aquilo que é urgente, primacial, os prolegômenos (uma exposição de princípios em que as práticas se basearão) deverão ser mostrados no prefácio, na introdução de suas práticas e atos para que vejam as diferenças de princípios e objetivos. Nesse aspecto a mudança semântica é fundamental para estabelecer o novo vocabulário das novas práticas. E desse modo, ajude a desmontar a farsa do político corrupto que ao praticar a corrupção o faz justificando que não há alternativa.

BRANDO é um craque nisso. É um ás dos malfeitos. E os seus malfeitos foram sempre vistos, pelo senso comum da cidade que ele é prefeito, Ana Flores, como algo comum às práticas dos políticos. Mas não é. Roubar não é algo que possa ser relativizado para justificar que um despreparado e incompetente possa também conseguir os prêmios sociais e econômicos sem nenhum esforço (o pobrezinho, o coitadinho).

Então, nem todo político é competente, preparado. Nem todo político é decente e honesto. Nem todo político, por inversão, é corrupto e desonesto. As generalizações são sempre frutos de desejos implícitos para a coletivização de canalhices - e esta pode chegar ao âmbito da violência para se estabelecer -, pois os princípios divergentes entre si geram também conclusões divergentes das práticas políticas. O senso comum está errado, desconhece essas anotações elementares, mas pertinentes.

BRANDO é um sujeito autoritário e prepotente. Qualquer pessoa que o contradiga está fadada a sofrer represálias violentas. Tanto simbólicas quanto físicas. Ele já deu mostras do que é capaz de fazer. Psicologicamente é um desequilibrado, é um semilouco.  E por que ele é assim e age assim? Por que não aceita que lhe façam críticas às suas práticas políticas?

É simples, ele acha que não erra nunca, que não pratica malfeitos, que seus objetivos são todos honrados, seus amigos são todos perfeitos e ele se acha, por isso, um virtuoso. Ah, cheguei ao momento de justificar o título do texto. O Filósofo LUIZ FELIPE PONDÉ diz que: “Todo mundo que crê na própria virtude é um canalha". O virtuoso do tipo BRANDO.

BRANDO acredita tanto na própria virtude que chega a transbordar de tanta canalhice. É por isso que eu disse que ele é meu canalha preferido. Porque representa perfeitamente o tipo canalha que eu gostaria de utilizar para exemplificar o político canalha cujo único esforço que é capaz de cometer é tentar alargar os limites dos significados das palavras tidas como dignificantes para pôr dentro deles as suas canalhices.

BRANDO é o meu canalha preferido porque é o tipo ideal de canalhices. 


P. S.: (1) Na minha cidade fictícia, Ana Flores, todos os personagens, histórias e as situações por eles protagonizadas são meras criações fictícias e qualquer relação existencial com alguma cidade verdadeira ou personagens reais terá sido mera coincidência.

P. S.: (2) Desejo expor a minha indignação contra aqueles que dizem simplificadamente que eu sou um conservador. Bobagem de idiotas, pois meu pensamento é fundamentado na ideia de um mundo em que muito mais gente tenha a oportunidade de viver dignamente e com oportunidades amplas que as possibilitem lutar por essa dignidade. Conservador é aquele que deseja conservar, ora se desejo um mundo melhor que esse como posso ser um conservador? Só um idiota mal escolarizado pode chegar a essa conclusão estúpida posto que não entende os fundamentos do que escrevo. 

P. S.: (3) Também não estou dizendo que os homens são uma espécie de seres bonzinhos sem nenhuma maldade, ou sem nenhum monstro dentro de si. Isso seria uma hipocrisia párvoa. Ninguém é santo, e, de modo inverso, “todo santo tem passado”. Portanto, não advogo uma essência humana “boa” para todos e que apenas alguns dela não participam (como BRANDO) colocando as coisas no âmbito de um maniqueísmo barato. O que sempre digo através de metáforas e ironias é que acredito em um tipo de homem que seja capaz de tornar concreto através de suas práticas aquilo que ele tem de bom em benefício da maioria. Política é também isso. Quando denuncio tipos como BRANDO, o faço com a finalidade de apontar erros estúpidos e, assim, permitir que aqueles que têm algo de bom possam objetivar aquilo que têm de bom. O que têm de ruim devem guardar para si e confessar para seus espelhos o que pretendem fazer: dominar os seus demônios interiores (que todos temos) ou lutar incessantemente contra eles para que possam fazer o melhor que podem fazer.  



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