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terça-feira, 8 de novembro de 2011

KASSIO CONTRA O SENSO COMUM.



KASSIO COSTA MOREIRA é aluno do curso de Edificações Integrado ao Médio do IFPI – Floriano. Veio lá de Manoel Emídio estudar aqui e é daqueles que desde cedo já perceberam que a vida é uma construção diária através de escolhas.

É estudioso e gosta de ler. Só vive pedindo indicação de leitura aos professores. Então, ele escreveu esta crônica sem objetivos literários específicos, mas com a finalidade de expor um tipo de mentalidade ultrapassada que, baseada no senso comum, atrapalha a vida pessoal e profissional das pessoas em geral, mesmo que elas não percebam.

A desvalorização do conhecimento não permite usá-lo como fundamento para as ações produtivas e práticas. É um empecilho para a marcha histórica do desenvolvimento. Ele quis mostrar isso através de sua crônica ("Seu José") problematizando uma situação que ainda persiste entre um número considerável de profissionais dessa área.


"Seu José. Um homem batalhador. Conquistou tudo que possui através de muito trabalho, gastando muito suor. Seu Zé, comumente chamado dessa forma, possui três filhos, aos quais dedicou boa parte do seu trabalho. Aldair é seu filho mais velho, formado em administração de empresas. Aldair trabalha em uma empresa muito famosa como coordenador de produção, é casado e tem um filho. O segundo filho de seu Zé é o José filho, este se formou em Geografia ano passado, é noivo, trabalha em uma escola da rede pública, está de casamento marcado para o próximo mês.

Milena é a filha mais nova de Seu Zé, moça esforçada, se tudo der certo termina medicina em breve. Seu Zé criou seus três filhos com muita dedicação e paciência juntamente com Ednalva, sua fiel esposa. Os cinco viveram sempre em uma casinha humilde da periferia. A casa foi construída por Seu Zé, pedreiro na época. Para garantir o sustento da família Seu Zé trabalha desde os dezesseis anos na construção civil. Foi servente, ou como a maioria chama “orelha seca”, e agora é pedreiro. Seu Zé nunca fez nenhum curso profissionalizante, estudou até o quinto ano do ensino fundamental. Há tempos vem juntando dinheiro para que um dia consiga comprar uma casa nova. Já possui em sua conta bancária mais de cinquenta mil reais, o que para ele é uma fortuna.

Seu Zé sempre construiu casas, nunca precisou da ajuda de nenhum técnico, sempre disse que engenheiros e arquitetos não entendiam nada de construção. Era ele quem planejava a construção de todas as casas que fazia. Servia de arquiteto, engenheiro e também de técnico em edificações. Juntamente com sua equipe de pedreiros construía uma casa em poucos meses. Tinha sorte, nunca foi pego pelo CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia).

Seu Zé é daquele tipo de pessoa que fala o que vem a cabeça ao se sentir ofendido. Ao ser orientado por um engenheiro a procurar ajuda técnica em suas construções, Seu Zé deixou o jovem profissional espantado. Usando a sua experiência na área como argumento, Seu Zé praticamente quis dar uma surra no engenheiro.

Há pouco tempo as construções do Seu Zé começaram a apresentar um defeito comum. As colunas de todas as casas construídas por Seu Zé estavam perdendo sua consistência, estavam virando farelos. Seu Zé não conseguia compreender o motivo. Tinha usado as mesmas técnicas aplicadas em todas as construções e mesmo assim algumas de suas casas estavam apresentando defeito e justamente na coluna, uma das partes do prédio que deveria apresentar melhor estrutura.

Insatisfeitos os proprietários dos imóveis decidiram levar o caso a justiça. Imediatamente a justiça pediu ao CREA que desse uma olhada nas devidas construções. O CREA analisou todas as construções e então tirou uma conclusão: as casas construídas por Seu Zé possuíam ótimo levantamento de paredes, bons rebocos, bons pisos e etc. No que dizia respeito à obrigação do pedreiro estava tudo impecável. O problema estava na estrutura das casas, a parte que cabe aos engenheiros.

Todos os dias em uma incansável rotina, Seu Zé e o seu grupo de pedreiros e ajudantes chegavam, passavam o dia no trabalho e iam embora. Almoçavam sempre na obra. Dona Ednalva era sempre a responsável pelo almoço, fazia comida pra Seu Zé e para os dois pedreiros e os três ajudantes. Todos os dias Seu Zé e sua equipe almoçavam e lavavam os seus pratos na obra. Mas a água usada para lavar os pratos era a mesma usada para fazer o concreto utilizado nas colunas. A gordura contida nos pratos terminava sendo depositada nas colunas de concreto. E o concreto já adulto perdia suas propriedades e esfarelava-se.

Envergonhado, Seu Zé estava arrependido, mas era tarde. A justiça o condenara a pagar uma multa de cinquenta mil reais. Justamente o dinheiro que Seu Zé estava juntando para comprar a casa nova. Infelizmente Seu Zé terá que trabalhar mais alguns anos para comprar sua casa nova. Fato que ele poderia ter evitado procurando ajuda técnica para as suas construções, mas que, por pura teimosia, aconteceu."


2 comentários:

Anônimo disse...

Professor, parabéns pelo ambiente democrático. Fico grato por orientar e indicar leituras ao Kássio, meu sobrinho.

Att:
José Neto

JAIR FEITOSA disse...

Olá José Neto.

É nossa tarefa lutar pelos que despertam cedo para a necessidade de uma preparação intelectual ampla em sua formação profissional e insistir para aqueles que relutam diante disso, também.

Um abraço.

Jair Feitosa.