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quarta-feira, 31 de março de 2010

ISABELA.

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O texto sobre o julgamento do caso ISABELA NARDONI é de autoria do Filósofo PAULO GHIRALDELLI JR. Desejo dizer que é a posição dele diante daquilo que ficou claro durante o que ocorreu semana passada.
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Discordo dele quando digo que faltou salientar que algumas das pessoas que estavam do lado de fora da sala de julgamento não têm a vida "cheia de nada", não. Haviam pessoas que estavam ali lutando por uma causa. Pessoas que procuravam mostrar que parentes seus, também assassinados de maneira similar, aguardam julgamento e que merecem o mesmo tratamento por parte da justiça. Portanto tinham, sim, uma causa, e uma causa com causa. Outras estavam procurando conhecimentos já que alguns eram estudantes de Direito e procuraram no julgamento aprender. Tinham a sua causa e, também, com causa. Além de escritores e estudiosos do comportamento humano que não puderam entrar e ficaram esperando uma oportunidade.
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Portanto não eram todos que não tinham motivos de estar alí. Tinham esses retratados pelo Filósofo, sim. Mas não eram todos. Boa leitura e aproveite para concordar ou discordar do que lê, pois é com esse objetivo que reproduzo alguns textos do Filósofo.
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ISABELA NARDONI ENTERRA OS SEUS MORTOS
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Terminado o julgamento do casal Nardoni e passada a gritaria e rojões dos desocupados que ficaram em frente ao Fórum ou que, em suas casas, não faziam mais nada senão se alimentar do noticiário bestializado do caso, veio o inexorável silêncio. Mais uma vez a vida dessas pessoas que gritaram e comemoraram voltou a encher-se de nada. Todas elas caminharam para a mediocridade de onde saíram. Cada vida ali, cheia de nada, talvez tenha menos a fazer no mundo do que os Nardoni, que irão envelhecer na cadeia. Cada uma daquelas pessoas, até chegar ao ouvido delas a morte de mais uma Isabela qualquer, estará tão morta quanto a própria Isabella. Nada dentro de casa, nada no horizonte. Uma vida cheia de nada.
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As vidas dessas pessoas que se dispõem a se engajar em alguma causa que não é causa nenhuma, quando não há nenhum Hitler para recrutá-las para “fazer justiça”, é uma vida intermitente. Na falta de mais uma causa que não é causa nenhuma, tudo é um grande e eterno vazio. Nenhum emprego interessante, nenhum casamento gostoso, nenhum lar sadio, nenhum objetivo político; somente um horizonte social totalmente transparente – é tudo o que possuem. Quando William Bonner anunciará algo novo, possível de ser assimilado pelos cérebros simplórios, para que seus proprietários se levantem de seus túmulos? Essa é a pergunta que paira no ar na casa de cada um que soltou rojão ou que ficou no Fórum gritando “por Isabela”.
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“Uma vida cheia de nada” é o tema do ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro este ano, a belíssima película argentina “
O segredo dos seus olhos” (José Campanella, 2009). Vale a pena ver. Há ali uma história. Mas “a vida cheia de nada” dos que gritaram por Isabela não dá um filme. Tudo ali é tão realmente cheio de nada que nem mesmo a narrativa sobre a pobreza de espírito é possível nesse caso. É o deserto avassalador que cresce dentro de cada alma que nem mesmo é uma alma, apenas uma cavidade encurtada capaz de fazer eco a um distante som metálico de noticiários de TV voltado para questões policiais.
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Hitler não vem. Mussolini não chega. Hiroíto não passa. Franco não dá bola. Pinochet não é ninguém. Castelo Branco é um desconhecido. Todos os ditadores, dos maiores aos menores, capazes de poder fazer viver a turba que deseja vingança – vingança contra algo que a turba não sabe o que é e que, por conta da pouca educação social, diz que é “justiça” – não estão disponíveis. Resta então implorar por Datena. Talvez ele ponha alguma adrenalina em uma vida ressentida e cheia de nada. Mas Datena não vai adiante, ele é o Afanásio Jazadi dos novos tempos, da época “pós-politicamente correto”. Ele quase lança o ódio, mas recua. Ele não dá o que a turba pede. Por sua vez, Serra, que canaliza a direita hoje, é um candidato com um gosto tão entusiasmante quanto Alckmin. Picolé de xuxu era seu parceiro, ele próprio, Serra, é picolé de nabo. A turba almeja mesmo é por Hitler. Mas, eu garanto, ele não vem. Então, que Deus se apiede de todos e jogue alguma Isabela de outro edifício, caso contrário, cada uma dessas pessoas terá que ficar mais tempo no seu cemitério. Não poderá ganhar a luz do dia.
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Uma vida cheia de nada. Quando uma vida é cheia de nada, nos cartazes dos manifestantes (como uma parte de nossa população está ficando igual aos setores conservadores americanos!) sempre aparece uma palavra suficientemente vazia para dar razão aos vingadores: “Deus”. Deus não aparece para apaziguar, diminuir ódio ou promover a paz. Ele aparece para que exista vingança, não a respeito de Isabela, mas de qualquer outra coisa, talvez seja a vingança contra a própria vida cheia de nada. “Deus” surge para promover o ressentimento que ganha o nome, no caso, de “justiça”.
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Que sorte que Collor deu no que deu, pois, caso tivesse continuado, ele poderia aproveitar essa gente. Sendo ele agora apenas um senador marcado, tudo fica mesmo por conta de Bonner falar de outra desgraça. Enquanto as coisas ficarem só nisso, não há perigo.
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Texto de: PAULO GHIRALDELLI JR.
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27/03/2010
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Um comentário:

Anônimo disse...

NA VERDADE FOI UMA BARBARIDADE QUE FIZERÃO COM A ISABELLA

ASSINA:ariane