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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

VALE A PENA LER DE NOVO.

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Texto escrito em 2006 para o portal Notícias de Floriano e inédito aqui no Blogue.
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PREFEITURA DE FLORIANO: “REPRODUZINDO O VELHO”.[1]
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A atual administração municipal fundamenta-se numa frase que tem como objetivo marcar a sua sobrevivência
[3]. É bem verdade que é uma frase que impressiona e traz em si, de forma subliminar, o desejo da população sobre as práticas políticas em nossa cidade. Possui a pretensão de concretizar as esperanças de um novo modelo de administração pública que permeia há muito tempo a consciência do cidadão florianense. Portanto, é uma frase que não foi criada à toa, que não foi dita subitamente. Podemos inferir.
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Por que uma frase mereceria ser analisada se ela pretende apenas representar os ideais de uma administração? É por isso mesmo. Se desejarmos conhecer verdadeiramente um fenômeno, temos que buscar a sua essência. Nesse trabalho os detalhes devem ser considerados, pois podem nos fornecer as mais reveladoras características essenciais do fenômeno. Essência e aparência formam um fenômeno, mas a análise somente daquilo que parece ser não representa a sua verdadeira identidade. Significa que uma frase como essa pode revelar verdadeiramente o que se pretende fazer. Uma frase pode dizer tudo sobre o todo da administração. Visto que cada elemento que compõe o todo da administração deve ser entendido, numa relação complexa, como interligados entre si e dando sentido a esse todo. Como também, analisando a frase, procurar desvendar a administração levando em consideração que ela (frase) reflete o que a administração é. Não é só a frase que define a administração, mas certamente possui características que a constituem.
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É claro que existem frases de prefeituras que não expressam significado nenhum, e a falta de significado revela, por outro lado, a incapacidade até mesmo para demonstrar os ideais ou de simplesmente esconder as verdadeiras intenções. Mas a frase que foi escolhida para identificar a administração municipal de nossa cidade diz tudo. Ela foi muito bem elaborada. Mas quanto à consciência clara dos fundamentos nos reservamos o benefício da dúvida.
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A frase é: “Construindo o novo”. Podemos supor, considerando que é resultado de um ato bem pensado, que a sua idealização foi baseada na visão de mundo predominante. Vamos tentar elucidar o que a frase significa e o que na verdade é a prática política da atual administração, fazendo assim um paralelo entre aquilo que é dito e a verdadeira realidade. Demonstrando, assim, a falácia que pretendem cravar na mente dos incautos. Sabendo que não passa de uma falácia entendemos que o esclarecimento deve ser feito, evitando assim o risco de sermos apontados no futuro como coniventes com este ardil pela omissão.
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Entendemos que o mundo pode ser explicado com base no seguinte raciocínio: o “novo” é conseqüência de um processo de superação e ultrapassagem do “antigo”. “O novo deve ser necessariamente de vanguarda, deve ser sinônimo de renovação, de desenvolvimento, do inferior para o superior, do simples para o complexo”
[4]. Quer dizer, a explicação dos fatos no plano da ação humana é dada como um processo contínuo da relação entre uma realidade estabelecida e sua contradição que culmina sempre num terceiro momento. A luta entre os contrários, numa seqüência de acúmulo de suas contradições, resulta numa superação ou transformação do momento existente anteriormente. Aí surge verdadeiramente o novo.
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Colocando em outros termos, a “velha” ordem política estabelecida em nossa cidade possuía uma oposição que em seu discurso (apenas) era contrária a toda prática política estabelecida. (Essa oposição utilizou as armas que agora condena para chegar ao poder). Propunha uma realidade diferente, que era o desejo de todos. Propôs-se que o empreguismo iria desaparecer, que as nomeações seriam feitas baseadas em critérios absolutamente superiores, que o nepotismo, essa imoralidade descarada, seria banido de vez de nossa realidade, que a liberdade seria restabelecida nas relações sociais e políticas, que haveria prioridade no atendimento às necessidades daqueles que compõem “o coletivo social subordinado”, que nossa cidade seria reconstruída em todos os seus aspectos – estruturais, estéticos, culturais, econômicos, sociais, políticos, que os negócios públicos teriam um trato claro e sem apadrinhados, e tantas outras demonstrações de que a realidade seria transformada.
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No confronto do discurso daqueles que se opunham havia a esperança de superação daquilo que existia. Nessa luta o novo sempre vence, pois o estabelecido (o velho) já está caduco, sem forças, incapaz de permanecer – pelo desgaste. Dialeticamente o novo surge num processo constante de negação e superação da realidade existente. “O novo sempre vem”, como diria o poeta.
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Existem originalmente duas formas, portanto, de representação dessa visão de mundo. Eles, de forma consciente ou inconsciente, escolheram a primeira. Não estou afirmando que a escolha foi errada, mas dizendo que se optou por ela para esconder a verdade dos propósitos. Porque fica fácil confundir, enganar. Enquanto se tivessem optado pela segunda seriam facilmente desmascarados, pois os significados dos conceitos são por demais contraditórios.
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A primeira prega, de uma forma geral, que o novo (ou a nova realidade política) deve ser o resultado de uma agregação dos fatos positivos que compõem tanto a realidade afirmada (existente) como a realidade contrária (a que se propôs). Aquilo que haveria de positivo tanto na situação como na proposta da oposição. Juntando tudo formaria uma terceira realidade evitando, assim, rupturas bruscas - dizem os defensores desse modelo. Seria assim um avanço e uma conservação. Mas existe uma outra forma de representar esse processo que é aquela que diz que o novo não é apenas o resultado de uma superação apenas cumulativa, que é a segunda. Afirma que o novo surge de uma relação contraditória, como no primeiro caso, apresentado-se como um momento completamente superior, pois é obvio que saiu do seio do velho, mas não é o velho, é algo que se tornou outro, superior. É o momento do verdadeiro novo. No primeiro momento o novo é o disfarce do velho, no segundo momento o novo é a superação daquilo que existia nas características já envelhecidas, vencidas, carcomidas pelas velhas práticas.
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A frase é baseada na primeira forma de explicação da realidade. O novo proposto pode ser entendido como o caso daquela pessoa de idade tal que resolveu fazer uma plástica no rosto. Melhorou a aparência da velhice, mas essencialmente continua a mesma pessoa. A frase não quer dizer, segundo as práticas atuais que servem como meio de realização política, outra coisa. Seria o novo com a cara de velho, ou o velho com a cara de novo?
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Assim, o propósito é apenas analisar algo que parece simplório mas que tem um significado altamente revelador. Ao contrário do que dizem os detratores do meu modo de pensar, não estou fazendo tempestade em copo-d’água. Estamos revelando aquilo que está escondido atrás de um discurso que se pretendia transformador de uma realidade questionada. Essa análise foi feita a partir da proposta do tema que é passar a idéia de que algo novo está sendo construído na política em Floriano.
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Estamos afirmando que o sofisma criado (“Construindo o novo”) não é suficiente, pois não esconde a verdadeira prática política. Todos os cargos existentes na administração anterior foram mantidos, pior, recentemente criaram-se mais cargos para fazer a velha política de acomodação do compadrio – as repartições da prefeitura estão derramando funcionários. A extinção desses milhares de cargos foi uma das principais bandeiras de campanha do atual prefeito. Foi dito que as nomeações para os cargos de comando seriam feitas baseadas em critérios absolutamente superiores, técnicos, mas soubemos de Secretarias e Diretorias de fachada, apenas para acomodar alguns.
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Foi dito que o nepotismo seria banido de vez de nossa cidade. O que se vê, no entanto, é essa prática sendo superlativizada. “Nunca se tinha visto algo semelhante em nossa cidade em matéria de nepotismo”, testemunham alguns cidadãos que contam a nossa história política. Nunca uma família em todos os graus de parentesco, tanto de quem administra como de auxiliares, tinha se agarrado com tamanho desvelo à res publica. Isso é que é cuidar dos rumos da cidade?
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Muitos defendem esta prática, mesmo os meus detratores, dizendo que todo político age assim. É impostura. Nem todo político é imoral, temos vários exemplos neste país. Temos vários exemplos no mundo. Então, este argumento revela muito mais uma falha de caráter de quem o defende do que propriamente uma justificativa para a imoralidade. Pior que isso é ouvir que a atual administração cometeu tal e tal desrespeito à moralidade, mas está fazendo algumas coisas. Em São Paulo e na Bahia ouvimos falar de frases que identificavam esse tipo de “política”.
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Outros tantos defendem o nepotismo com um argumento intimidador, aquele que diz que eu não deveria falar dessas coisas, pois isso é perigoso, poderia deixar insatisfeita muita gente e as conseqüências poderiam ser violentas. Mas isto é real, é concreto, não se pode negar, está aí, todo mundo está vendo, todo mundo sabe. Só que o véu da hipocrisia tenta esconder. Ninguém pediu desculpas à população por tamanha imoralidade. Estou apenas provocando a construção de um argumento inteligível para que expliquem esse fato ignóbil.
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Foi dito que o “novo” traria relações políticas novas, teríamos liberdade de expressão. Mas a prática revela que as características daquilo que foi considerado velho estão presentes no novo, todas e mais algumas. Fomos várias vezes impedidos de nos manifestar publicamente apenas porque pensamos diferente. Até censura sofremos. E aí entra em cena o despotismo como padrão de ação política. O prefeito nos acusou de estarmos tentando desestabilizar o seu governo. Ora, um governo que desaba apenas com críticas ideológicas está sustentado em quê? Quais as bases desse governo? Está flutuando ou não possui uma fundamentação ideológica que o justifique? Porque até o momento não fizemos nenhuma acusação de corrupção. Até agora nada indica que algo assim esteja ocorrendo. O que desejamos é que a nossa cidade seja exemplo em todas as áreas de atuação. Em vários textos expomos os fundamentos, meios e objetivos para atingirmos esses ideais, já fizemos várias proposições nesse sentido.
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Queremos uma cidade livre, democrática, justa. Queremos que nossa cidade seja um lugar digno para se viver, e não que seja apontada como exemplo de tudo aquilo que existe de mais decadente em matéria de prática política. Queremos uma cidade alegre, limpa, estruturada, economicamente justa, culturalmente de vanguarda, progressiva e não conservadora de práticas sórdidas. Queremos uma cidade onde todos possam influenciar nos rumos que desejamos seguir. E não uma cidade que segue os caminhos determinados por um “pequeno-deus”.
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A partir do que foi dito vimos que o slogan utilizado por esta administração além de não atingir o objetivo que é mostrar que se iniciou uma nova maneira de fazer política e administrar a coisa pública, revela nas entrelinhas que esta administração já nasceu velha. Já nasceu conduzida por velhas práticas que foram condenadas. A história registra muitas lições, vamos aguardar atentos.
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PS: (postscriptum): O significado etimológico da palavra Dialética tem origem grega e pode ser: “a arte de dialogar”. Ela surge com HERÁCLITO de Éfeso (570-475 a.C.) na Grécia Antiga. Então, ao contrário do que se diz, a Dialética não é uma dádiva de Deus. A não ser que se considere o alemão Georg Wilhelm Friedrich HEGEL (1770-1831) como tal. Pois, foi ele quem nos legou esta forma de compreensão e explicação da realidade no sentido e conceito como a conhecemos hoje. O pensamento de Heráclito passou dois mil anos relegado ao esquecimento, foi Hegel quem o resgatou e o habilitou como método totalmente reestruturado. Karl MARX (1818-1883) reconheceu a grandeza do pensamento de Hegel, mas parte de outro princípio, que não a idéia, para explicar a realidade de forma dialética. Mas esta não é a única forma de se explicar a realidade, existem outras tão expressivas quanto ela. A metafísica, o positivismo e suas atualizações, o estruturalismo, são algumas delas. São modelos teóricos criados pelo homem. A explicação divina sobre esse aspecto da realidade está contida na Bíblia Sagrada e lá não se lê nada sobre dialética.

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[1] Texto escrito em: 16.01.2006.
[3] “3. O que permanece de uma situação antiga ou de um antigo sentimento”, conforme o dicionário eletrônico Aurélio.
[4] O. YAKHOT. O que é o materialismo dialéctico? Biblioteca Ciências Sociais. P.188/189.

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