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sexta-feira, 1 de maio de 2009

OS JOVENS RAIOS DE SOL ALARANJADOS - IV.

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JOEL resolveu deixar de mão as suas inquietações existenciais e foi cuidar da vida. Tinha que ir fazer uns “bicos” para conseguir algum dinheiro para a sua subsistência, pois para a sobrevivência os de casa já tinham ido para a lida.
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Foi fazendo “bico” que ele viveu até então. Nunca entendeu que ter uma profissão qualificada era o caminho que a moral social, aquela que ele despreza, sempre valorizou para se poder ter uma casa bonita como a do seu vizinho.
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Ao meio dia já havia retornado. Não tinha conseguido nada. Estava morrendo de fome, no entanto o almoço ainda não estava à mesa. Pelos costumes da casa ele tinha que esperar os de casa chegar da lida. Aproveitou e foi tomar banho para vestir a farda e ir à droga da escola onde estudava no turno da tarde.
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Rotineiramente os anos se passaram sem surpresas. Só o sol às vezes iniciava os dias com aqueles tímidos raios alaranjados. E isso, às vezes, o fazia lembrar daquelas coisas. Mas logo esquecia de tão repleta de cotidiano que estava a sua vida.
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Mas certa vez, JOEL conheceu um cara que era ateu. Esse cara lhe disse, numa conversa que tiveram regada à bebida, que Deus não existia. Ele ficou chocado com aquilo, tão certo de suas verdades religiosas. E ficou pensando nas coisas que havia lhe dito aquele sujeito asqueroso, idiota, imbecil.
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- Como pode um filho de Deus dizer que Ele não existe? O que seria do mundo se não fosse Deus? Tudo estaria perdido. Haveria guerras constantes entre os povos. Violência entre os indivíduos. Violência no trânsito. Assaltos. Ninguém respeitaria ninguém. Todo mundo em busca de seus interesses particulares. Sequestros. Tiroteios nas vias públicas. Tráfico de armas e de drogas. Pedofilia. Parricídios. Homicídios. Fratricídios. Infanticídios. Destruição da natureza e de tudo por dinheiro. Meu Deus! Seria terrível se Deus não existisse. O homem viraria o “lobo do homem”. O homem seria um ser incontrolável. O homem se desumanizaria. Não seria possível viver assim. Pensou JOEL.
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JOEL ficou mais chocado ainda quando pensou nas consequências para o mundo daquilo que o ATEU lhe disse. Paralisado, voltou a si e resolveu não pensar mais nisso.
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- Deus me livre desse mundo assim. Disse o atordoado JOEL.
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Foi quando seu “daimon” voltou a dizer que ele não deveria parar agora.
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JOEL não sabia, mas seu “daimon” era a sua consciência moral com todos os valores e costumes neoliberais. Ah, se JOEL soubesse disso antes. Ele teria percebido que já vive num mundo assim. Que todo aquele cenário apocalíptico que ele imaginara que seria o mundo sem Deus, na verdade era o mundo em que ele vivia.
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Muito tempo depois, num velório de um desconhecido, JOEL voltou a encontrar o ATEU. Chegou todo condolente e foi confortar os familiares. Mas antes havia cumprimentado o único conhecido que avistara ali, o ATEU. Perguntou a ele quem eram, dentre os presentes, os familiares e foi dizer-lhes de sua consternação. Logo começou a cumprimentar os demais presentes com um sorriso amarelo e gestos de intimidade.
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Chamou o ATEU para uma conversa mais reservada no quintal da enorme e linda casa onde havia um grande terraço de cimento com umas cadeiras de vime embaixo de um grande pé de manga.
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Após acomodarem–se, JOEL pediu ao ATEU para falar mais sobre aquela ideia que ambos haviam conversado há alguns anos quando se conheceram num churrasco no sítio de um amigo em comum. O ATEU sorriu e se lembrou daquele porre dionisíaco que ambos haviam tomado nesse dia.
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Continua e termina amanhã.
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