LOCALIZAÇÃO DE LEITORES


web site estatísticas

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

SOBRE LADRÕES E CIDADÃOS DESPROTEGIDOS.

.
Estou relendo um livro de Filosofia, "Curso de Filosofia", organizado por ANTONIO REZENDE. No artigo "O que é Filosofia e para que serve" a autora MAURA IGLÉSIAS, Pós-Doutora pela Universidade de Paris IV, cita os motivos que levam as pessoas a filosofar. "PLATÃO e ARISTÓTELES indicaram com precisão a experiência que, segundo eles, dá origem ao pensar filosófico. É aquilo que os gregos chamaram "thauma" (espanto, admiração, perplexidade)".
.
A interpretação que faço é que não é o espanto nervoso, psíquico (fobia), susto. Diante da atitude bastante comum a todo ser humano de transformar as coisas e seres que nos rodeiam em coisas "invisíveis" e "naturais", então se espantar é notar a existência de algo como surpreendente à nossa percepção. De outro modo, nos acostumamos tanto às coisas que muitas vezes nem as percebemos mais. As tornamos "naturais", banais, comuns, sem importância.
.
Só que grande parte dessas coisas tem uma importância muito grande para nós, ou tem um grau de dramaticidade que podem impossibilitar a nossa própria existência. Só citando exemplos comuns: nos acostumamos, banalizamos, naturalizamos tanto os nossos pais que chegamos a não dar-lhes a devida importância, ou seja, a atribuir-lhes a devida importância (dramaticidade de suas existências). Quando alguma coisa acontece e nos põe em risco a existência deles nos espantamos, ficamos perplexos. Só aí passamos a recuperar o grau de dramaticidade que esses seres tão importantes têm para nós.
.
Outro exemplo podemos considerar a violência. Volto a falar outra vez do arrombamento de minha residência. Ao comentar este fato muita gente o considera comum, natural, banal. E este argumento falacioso é decorrente da atitude policial de desconsiderar a dramaticidade do fato para a vítima. Tudo é visto com tanta banalidade na delagacia que quem não está acostumado com essa banalização se surpreende, como foi o meu caso. Sempre considerei a violência algo que a nossa sociedade vem há muito tempo banalizando, naturalizando e tentando conviver com ela como se isso fosse perfeitamente possível.
.
De repente, as pessoas se defrontam com situações violentas e aí se espantam, ficam perplexas, se admiram. E é aí que começam a questionar. Começam a procurar a causa, os meios, os fins para tanta falta de conviência digna. Começam a filosofar. O Filósofo brasileiro PAULO GHIRALDELLI diz que a Filosofia é "a desbanalização do banal". Aquilo que se tornou banal deve ser visto com outros olhos para buscarmos o que pode ser feito no sentido de torná-lo melhor.
.
Vivemos um período pré-festas e as pessoas são incentivadas a participar delas como se isso dependesse as suas vidas. Quem não participar vai ficar excluído das relações pessoais, amizades, relacionamentos, grupos... Muita gente que não possui os meios (dinheiro) para participar, mas que são instadas a fazê-lo através da mídia (paga com o dinheiro de seus tributos) e que não possuem uma formação moral firme terminam sucumbindo aos atalhos, imposturas que existem. Só não se preparam para o trabalho porque roubar é mais fácil. Não precisa estudar, se qualificar, perder tempo indo à escola.
.
Muita gente quer, deseja comprar um tal de abadá. Muita gente quer, deseja ter dinheiro para comprar alimentos e bebidas para a grande festa. Mas não tem dinheiro. Aí começam a cometer os roubos, assaltos, arrombamentos como meio de conseguir aquilo que querem, desejam. Como estes fatos sempre acontecem todos os anos, e são tão numerosos que o aparelho policial não dá conta, então se entregam à banalização.
.
Mas a ausência do estado na garantia do requisitos para a existência do estado de direito pode fazer surgir alternativas nada solucionadoras e legais (milícias). Tomara que não estejamos vivendo em germe o surgimento, como em Picos, desse tipo de solução para a violência.
.
Mas voltando ao livro, vou ressaltar um trecho que merece destaque: "Sendo a maioria das pessoas pouco exigente, as explicações dadas pelo mito (mitologia), ou quaisquer outras explicações prontas de uma cultura, bastam para quebrar o espanto nascente, e, assim sendo, a Filosofia não acontece. Aliás, é comum também que as questões mais fundamentais nem cheguem a ser postas - um ser humano pode crescer, assimilando com naturalidade as explicações dadas pela sua cultura sobre o mundo que o circunda, quer se trate do mundo físico, quer do social. As regras de conduta, o sistema de organização social muitas vezes não chegam a espantar ninguém. As pessoas crescem sem discutir os papéis sociais que lhes são atribuídos, sem jamais questionar seu valor e seu porquê, como se tudo fosse parte da ordem natural e inevitável das coisas."
.
Então, as questões fundamentais são levadas pelo costume do meio social a ser consideradas naturais, banais, desimportantes. A cultura (no caso as pessoas à nossa volta) termina criando uma postura sem dramaticidade daquilo que possue uma dramaticidade urgente. Dizem que é assim mesmo, que basta comprar portas mais fortes, de ferro e grades para se proteger. Não tem que fazer mais nada. Não podemos contar com mais ninguém.
.
Essa visão que está se formando do aparelho policial é particularmente terrível. Se os problemas não são resolvidos as pessoas terminam formando negativamente essa visão. Se as pessoas não estão protegidas irão procurar meios de fazê-lo, mesmo que para isso tenham que ir contra a lei. Símile daqueles fracos moralmente que terminam procurando os atalhos, as imposturas para realizar seus querer, desejos. Que sociedade é essa?
.
.

Nenhum comentário: