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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

20 DE NOVEMBRO.

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Dia da Filosofia
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A “grande depressão” dos anos trinta trouxe os Estados Unidos para o New Deal de Roosevelt e, então, para o novo liberalismo americano. O filósofo americano John Dewey havia defendido, anos antes, a reforma do liberalismo em favor de uma doutrina liberal que não temesse alguma intervenção do estado com objetivos comunitários. Dewey não gostava de Roosevelt, mas é claro que não desmentiu a identificação entre sua proposta e a política do presidente. Eram de fato semelhantes.
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Na Europa, um pouco antes, havia acontecido algo parecido. Boa parte dos partidos marxistas havia se tornado reformista. Não haviam abandonado Marx e nem tinham perdido suas bases operárias, todavia, não eram mais comunistas. A plataforma social-democrata, então surgida (não sem a autorização de Engels, o parceiro de Marx), deu aos países europeus o que ficou conhecido como Welfare State, o Estado de Bem-Estar Social. Depois da II Guerra Mundial os partidos social-democratas europeus e a nova política liberal americana mostraram para o mundo o que seria o verdadeiro caminho de prosperidade.
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Nos dois casos o que ocorreu foi a junção entre projetos filosóficos e projetos políticos e econômicos. A tecla comum era unicamente esta: planejamento. Não se admitia mais um governo apenas governante. O que todos queriam era um governo capaz de cumprir a máxima de Augusto Comte, vinda lá do meio do século XIX: “prever para prover”. Foi assim, pela via do planejamento, que a filosofia articulou seu contato com a política no século XX.
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Platão usou da filosofia para pensar a política na idéia da criação da cidade justa. Os medievais usaram da filosofia para alcançar a cidade justa fora da Terra. Os modernos imaginaram a cidade justa a partir do ambiente livre do mercado. Só no século XX é que a filosofia começou a pensar junto com a política antes a questão do bem estar geral que a questão da justiça. Justiça passou a ser antes de tudo justiça social.
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A Unesco instituiu há alguns anos o “Dia Mundial da Filosofia”. Ele é comemorado na terceira quinta feira do mês de novembro. A idéia básica não é somente cultivar a filosofia no âmbito acadêmico, mas colocá-la como elemento central para a atividade humana, em especial a atividade de busca do bem estar social, da justiça social. Não somos mais tão crédulos na capacidade nossa de planejamento como fomos nos anos 50 e 60. Mas, certamente, não queremos abandoná-la. Ela se incorporou às nossas vidas. E assim, não faz mais sentido pensar em favor da política e da economia sem que se tenha uma reflexão filosófica articulada. Essa articulação é que é a base da idéia contemporânea de planejamento. O que ocorreu entre Europa e Marx e entre Estados Unidos e Dewey se tornou uma regra: a filosofia e o planejamento político caminham juntos. O Dia da Filosofia é um dia para lembrar isso a nós todos.
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Todavia, o planejamento não é mais algo do âmbito da política da cidade, mas também da vida pessoal de cada um. Por isso falamos em planejamento familiar, planejamento da carreira e planejamento do futuro individual. Ora, também aqui chamamos a filosofia. Ter planejamento para a vida individual é “ter filosofia” – é assim que o termo “filosofia” aparece no seu sentido popular. E está correto. Então, o Dia da Filosofia vale também para os indivíduos. É um dia instituído para que as pessoas se lembrem de que a vida delas pode ser vivida de forma melhor se organizada, e para organizar a vida nada como ter capacidade de reflexão clara e sábia. Em outras palavras: se há lugar para procurar ajuda neste caso, o lugar é a filosofia.
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A filosofia tem dois lados. Um lado é ela com ela mesma. Trata-se da filosofia no âmbito de seus problemas “técnicos”, ou seja, os problemas de teoria do conhecimento, de metafísica, estética etc. Outro lado é a filosofia aplicada, ou seja, o pensamento filosófico tentando dar conta dos problemas da vida individual e coletiva. A filosofia política e a ética são o núcleo desse segundo lado. Mas também a filosofia teórica, ou seja, as discussões de teoria do conhecimento e de metafísica possuem um pé no campo da aplicação. Não discutimos aborto sem um pouco de metafísica. Não discutimos problemas de a
prendizagem e de avaliação educacional sem um pouco de epistemologia. Assim, a filosofia é toda ela útil na vida social coletiva e individual, tanto quanto nos afazeres do Estado.
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Escrevi em 2006 para o jornal O Estado de S. Paulo um artigo que tinha como título “está na moda ser filósofo”. Estamos ainda vivendo essa moda, e ela já está na fase de decantação. Todos estão notando que a filosofia ajuda, mas que não se faz um filósofo a partir de auto-didatismo. As universidades possuem um papel fundamental na formação dos filósofos. Fora delas é impossível formar um filósofo hoje em dia. No entanto, o trabalho do filósofo não é somente o de voltar para a universidade para formar outros filósofos. O trabalho do ensino é apenas uma parte de um possível trabalho do filósofo. A sua inserção no trabalho de planejamento é importante. Afinal, o que faríamos nós sem a atividade da razão?
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Todavia, a filosofia não serve só para o filósofo. O filósofo pode e deve colaborar com outros na atividade de planejamento da vida individual e coletiva de seus concidadãos. Comemore o dia 20 de novembro se informando mais sobre como a filosofia pode ajudar sua cidade, sua família e você individualmente. Muitas vezes você acha que precisa de um médico do corpo, quando na verdade você precisa de um médico da alma.
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Paulo Ghiraldelli Jr.
Filósofo e diretor do Centro de Estudos em Filosofia Americana.
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